De todas as vezes que disse que tinha que voltar a escrever, a vontade nunca me acompanhou. O que antes era diário, aquele entusiamo constante, quase que parecia já não mais fazer sentido, quase que deixou de me cativar.
A verdade é que para mim a escrita sempre foi pessoal, vontade de partilhar o meu estado de espírito, o ânimo ou desânimo da minha vida, as minhas opiniões... Não que a minha vida tenha ficado menos interessante nos últimos anos (muito pelo contrário by the way) mas a vontade de me expor, ou até mesmo de me focar naquilo que estou a sentir começou a parecer assustador. E de repente eu, de uma pessoa que desabafava com o mundo, que achava que partilhar era bom, começou a sentir que isso era só estúpido e preferi, como prefiro, reservar-me e lidar com as minhas questões só comigo...Bom, só comigo não será bem assim, com os que me são próximos, com a terapia...
Os últimos anos têm-me feito pensar que gosto de me resguardar, de guardar, o bom e o mau. Por um lado não gosto de pregar aos sete ventos quando estou feliz, por outro também não gosto de mostrar as minhas fragilidades. E embora saiba que toda a gente as tem, cada vez mais acho que as pessoas não vêm partilhas como algo bom.
Ainda assim, e mesmo sendo mais resguardada, a verdade, é que tenho cada vez mais voz, com mais força para confrontos e para dizer o que penso, sem ter medo de bater de frente com alguém. Ou melhor com algumas pessoas ainda tenho, mas confesso que já fiz e continuo a fazer progressos. Sinceramente, acho que deixei de ser uma miúda sem voz apenas para agradar os outros, e ainda que ache que nem todos os confrontos valham a pena, a verdade é que muitas das vezes temos de nos colocar nessa posição, falar, dizer o que pensamos, mesmo que isso signifique ir contra alguém que gostamos. A questão é simples, se for alguém dos nossos, mesmo tendo outra opinião, irá aceitar que a nossa é diferente, e está tudo bem.Devemos expressar-nos sem medo de represálias, sem medo de nos mostrar-nos, ou com medo de não nos encaixar-mos, durante anos senti isso, sabia que não pertencia ali, mas queria encaixar-me, queria falar igual, vestir-me igual, pensar igual, e isso é não aceitarmos o que somos, é sentir vergonha alheia de nós próprios, e lixar a nossa autoestima, viver apenas o que a sociedade dita e nunca ser livre!
Ás vezes é bom seguirmos outras marés, a vida tem-me mostrado isso, e acreditem, tem sido mesmo muito generosa com as lições!
Por isso, escreverei sempre e quando me apetecer, para mim e para os outros, mas especialmente para mim, para me relembrar que este lugar existiu e foi sempre importante para mim!